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O Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas - Ong feminista, foi fundado em 8 de março de 1992. Luta por um mundo justo, pacífico e igualitário para mulheres, homens e crianças. Igualdade e respeito às diferenças!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Algo de conchas e encantamento

Texto do folder da Ong Themis por ocasião dos 15 anos de sua fundação.


No sudeste do pacífico vive um caramujo de nome Nautilus cuja concha em espiral cresce na "proporção áurea", a constante algébrica 1,618, expressa pela letra grega phi(Fi). Amplamente identificável na natureza, o phi se manifesta desde o crescimento das plantas, das escamas dos peixes e das presas do elefantes, até a proporção exata entre as abelhas fêmeas e machos em qualquer colméia. Nos humanos, esta razão aparece em várias de nossas medidas. O phi está em entre grandes obras e arte como medida harmônica, expressando beleza nas pinturas renascentistas, na proporção entre as estrofes da "iliada" de Homero, na Eneida de Virgílio, no "Homem Vitruviano" de Leonardo da Vinci, na relação entre as pedras nas pirâmides, ou na 5ª e na 9ª Sinfonias de Beethoven.
Nas sociedades que herdamos não há constantes matemáticas, tampouco harmonia. O que nos cerca resta desequilibrado para além do suportável. Nos oferecem sapatos retorcidos, esquecidos de seus caminhos;promessas que se deslocam para o silêncio; notícias enlutadas por meias verdades e por mentiras inteiras; além de ameaças, para que tudo se disponha como sempre.
Nós mulheres,sentimos de uma maneira muito propria esta desporpoção. Aos nossos filhos, oferecemos a chuva e o calor; para que germinem como o trigo,verticalmente, e quando amamos, descobrimos raizes e reviramos a terra, porque a superfície nos sufoca. Pulsamos envoltas em fósforo marinho, disfarçando nosso brilho com baton; florescemos na rocha e nos enfeitamos de pedra; vimos, assim, desde as savanas africanas, despertar pelos ruídos da noite; embaladas pelas constelações e sonhando por conta das demoras. Ao longa de nossa história, entretando, já nos definiram como origem de todo o mal. Nos textos sagrados, fomos equiparadas aos animais e identificadas com o pecado. O mais antigo deles, a Torá, ordena aos praticantes homens que agradeçam todos os dias ao Criador por não terem nascido mulher. Obcecado pelo celibato, o clero medival inventou o culto a uma "mãe virgem", enquanto erguia fogueiras às mulheres de verdade. Em nome do Corão, os terroristas do 11 de setembro sonhavam com a devassidão no paraiso, enquanto suas filhas e irmãs seguiam tendo seus clitóris arrancados e suas vaginas costuradas para que não fossem "impuras..
Somos,por assim dizer, marcadas por todos as assimetrias. Ainda hoje, depois de tanta conquistas e direitos, elas nos espreitam como possibilidades trágicas no olhar de muitos e se esparramam pelos destinos das Marias da Penha que não conhecemos.. E, súbito, nos descobrimos em uma cela transformadas em pasto,para que tenhamos o direito de comer, ou nos chamam de "assassinas" se não concordamos em carregar em nossos ventres, mas que em nossa lembrança, a humilhação do estupro.
Por isso, tomamos a iniciativa de construir abrigos; inventamos armaduras e projetamos escudos. Juntas, fazemos como o Nautilos e vamos tecendo conchas em espiral. Simétricas conchas para amparar nossos sonhos, nos proteger e abrir caminhos. Simbolicamente este movimento histórico, queremos dividir com todas as mulheres e com aqueles homens que nos amam e respeitam, o orgulho por 15 anos de uma trajetória de conchas e acolhimento que fomos plantando com a Themis. Muito ainda temos de percorrer, é certo, mas já é possivel afirmar que sabemos da "proporção áurea" e que no mundo que vamos montando, há um espaço de harmonia para todas e todos. Algo assim como conchas de justiça e encantamento.

-Parabéns a Themis por seus 15 anos e pela inspiração que nos fortalece.

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